domingo, 28 de agosto de 2011

Shoftim - Energia Semanal de 28/08 a 03/09


No trecho desta semana (Deuteronômio 16:18 – 21:9) começamos com um mandamento simples: “Juízes e polícias designarás para ti em cada um de teus portões, em cada uma de tuas cidades, e julgarão o povo com reto juízo.”

Além do significado óbvio do versículo – de que devemos procurar estabelecer um meio de julgamento e cumprimento das leis em nosso meio – podemos extrair daqui uma lição de vida muito importante.

Os cabalistas explicam que os “portões” de que fala o texto são as vias de entrada e saída no corpo humano: os olhos, as orelhas, as narinas e a boca. Todos estes portões podem ser usados para o bem ou para o mal.

Com os olhos podemos fazer com que “entrem” visões das letras de um livro interessante, por exemplo, o que nos faz crescer pelo estudo, mas também podemos fazer com que “nossos olhos cresçam” e busquemos satisfazer nossos desejos sem limites.

Os ouvidos podem ser usados para escutar uma bela canção ou um lindo poema, ou podem ser usados para ouvir a fofoca e os mexericos de um amigo invejoso ou com raiva.

A boca pode ser usada para incentivar e consolar os outros, mas também pode ser um meio de ofensas e mágoas.

Quem define quais serão os usos destes portões, se bons ou maus? Os “juízes” e “polícias” que temos dentro de cada um de nós. Em último caso, o versículo desta semana pede que coloquemos juízes vigiando o nosso corpo, para ver o que faremos com ele: construiremos um mundo melhor ou destruiremos o mundo como o conhecemos?

E alguns podem se perguntar: mas quem são estes juízes internos? A Cabalá nos diz que são o intelecto e o coração. É por isto que a palavra está no plural – “juízes”.

Se usarmos só o intelecto ou só o coração para julgarmos nossas atitudes, podemos nos enganar e sermos parciais. É sabido que às vezes o nosso cérebro diz para não respondermos a alguém que nos ofendeu, mas o nosso coração diz para responder. O nosso coração pode pedir para não ouvir as palavras invejosas de alguém, mas o nosso cérebro, preso na curiosidade, diz para ouvirmos.

Os sábios da Cabalá explicam que um pássaro que quebra uma das asas não pode voar, pois o voo só ocorre quando as duas asas trabalham com força. Assim é a relação entre o intelecto e o coração nos julgamentos. Cada um deles é uma “asa espiritual” do ser humano. Quando fortalecidos e usados adequadamente, são os que nos impulsionam e nos permitem experimentar um crescimento espiritual verdadeiro.

domingo, 21 de agosto de 2011

Reê - Energia Semanal de 21/08 a 27/08


Esta semana vamos aprender algumas coisas da Porção Semanal de Reê (Deuteronômio 11:26-16:17).

Nesta semana Moisés resolve declarar guerra ao ego e o egoísmo, que é a origem da ambição, da luxúria, e do modo de vida que nos liga ao Egito, e não à Terra de Israel.

Mas qual seria o ponto fraco do egoísmo, para o qual Moisés direciona todas as suas flechas? O amor ao dinheiro.

Uma parábola conta que um homem muito rico foi consultar o Rabi Israel Salante pois lhe incomodava o fato de ele ser egoísta, mas queria melhorar isso. O rabino levou o homem para a janela, pediu que ele olhasse para fora e descrevesse o que via. O rico falou: “Ora, vejo as pessoas na rua”. Em seguida o rabino levou o rico para frente do espelho e perguntou o que o homem via. Ele respondeu: “Ora, só vejo a mim mesmo”. O rabino concluiu: “Pois é, em ambos os casos temos vidro, mas quando colocamos prata em cima do vidro, tudo o que você consegue ver é a si mesmo. Sem a prata, você viu os outros”.

O dinheiro é, de fato, uma das maiores formas de alimentar e saciar o nosso ego, por isso a Cabalá ensina que todas as regras que Moisés dá com relação ao dinheiro querem, na verdade, reduzir o ego humano.

E quais são estas regras? São, antes de mais nada, regras de entrega, pois é o ato de entregar que liberta o ser humano do seu ego.

Mais especificamente, as regras impostas por Moisés são: 1) segundo dízimo, 2) dízimo do pobre, 3) revogação de dívidas e 4) caridade.

Esta ordem não é casual, mas tende a trabalhar, pouco a pouco, e na escala correta, o ego da pessoa.

O segundo dízimo pede apenas que o dono de terras use 10% de sua safra de um modo específico, e não como ele quiser. O dízimo do pobre já é mais “severo” exigindo que 10% de tudo o que foi produzido seja dado ao pobre. Depois disso, vêm ainda provas maiores para o ego, e, portanto, provas maiores de entrega. O terceiro mandamento pede que no ano sabático (o sétimo ano de um ciclo), a pessoa que emprestou dinheiro perdoe totalmente a dívida do devedor. Por fim, o último mandamento é o que exige a maior entrega possível, dar sem sequer esperar retorno.

Ao emprestar esperando ser pago, ainda temos o ego envolvido na transação, mas, quando damos caridade, damos sem esperar retorno do dinheiro, e este sim é o verdadeiro tipo de entrega, a culminação da briga contra o ego.

Portanto, do ponto de vista da Cabalá, dar caridade ou o dízimo, nada tem a ver com abrir mão do seu dinheiro (embora isso possa ajudar no caso de pessoas muito materialistas). Mas significa apenas sabermos “abrir mão” do que é nosso: nossos valores, nossas posses, nossas ideias arraigadas, nossos preconceitos. Tudo em prol do outro.

É assim que o nosso ego se empobrece e nós ficamos ricos.

domingo, 14 de agosto de 2011

Ékev - Energia Semanal de 14/08 a 20/08

Esta semana estamos ligados à Porção Semanal Ékev, que vai de Deuteronômio 7:12-11:25. É deste trecho que vamos tirar algumas lições para esta semana (e para nossa vida).

Ao falar da Terra de Israel, mesmo sabendo que não entraria nela, Moisés constantemente acrescenta um adjetivo a ela, geralmente denominando-a “boa”, como em Deuteronômio 3:25: “Deixa-me passar, rogo-te, e verei a boa terra, que está além do Jordão”.

No entanto, na porção desta semana, ao elogiar a Terra de Israel, Moisés diz duas coisas interessantes: “Porque o Eterno, teu D’us, te traz a uma boa terra, terra de ribeiros de água, de fontes e de abismos que existem nas suas colinas e nos seus montes” e “terra cujas pedras são ferro, e de seus montes poderás extrair cobre”. (Deuteronômio 8:7 e 9).

Uma coisa intrigou os cabalistas: a terra, por mais boa que seja, tem apenas ribeiros e fontes de água, mas não rios. Por mais que seja boa, ela possui apenas ferro e cobre, mas não ouro e prata, os metais mais valiosos e desejados.

Já vimos anteriormente que, do ponto de vista cabalístico, a terra de Israel representa o nível de espiritualidade a que uma pessoa pode chegar. Portanto, o fato de ela não ter certas coisas mostra que, para chegar no nível de espiritualidade, precisamos de uma certa dose de humildade.

A Terra de Israel não possui um rio Nilo que, por meio de suas enchentes, faz o solo ficar fértil e facilmente cultivável. Se o tivesse, o propósito do trabalho espiritual seria perdido. As pessoas ficariam tão deslumbradas com isso que iam transformar o próprio Nilo em divindade (como ocorreu no Egito), esquecendo-se do verdadeiro D’us e da verdadeira espiritualidade.

O mesmo com as pedras. Israel tem pedras de cobre e de ferro, que servem para fazer instrumentos de trabalho e instrumentos do dia a dia. Mas a terra não possui minas de ouro ou prata, que são metais luxuosos e servem ao orgulho e a vaidade humana.

Possuir estas coisas (fisica ou não fisicamente) é se afastar do caminho da felicidade e da realização. Correr em direção aos “rios, ouro e prata” da vida significa fugir da espiritualidade e da riqueza de alma. É assim que o Egito cultuava o Nilo como um deus. Antes, era o Nilo; depois, foi o ouro e a prata; hoje, é o dólar e o petróleo.

Segundo os cabalistas é por este motivo que rios, ouro e prata não são encontrados na Terra de Israel, símbolo máximo da espiritualidade. Possuir tais coisas pode ser, até certo ponto, um desserviço do ponto de vista espiritual.

Vaetchanan - Energia Semanal de 07/08 a 13/08


Esta semana lemos a Porção Semanal de Vaetchanan (Deuteronômio 3:23-7:11).

No trecho desta semana Moisés continua o seu discurso ao povo. Dentre os vários novos conselhos e mandamentos que Moisés estabelece ao povo, no meio de todas suas palavras, uma hora ele diz: “E farás o que é bom e justo” (Deuteronômio 6:18).

Ora, os mandamentos que ele deu até agora não eram, então, bons e justos? Toda estrutura de leis ainda era insuficiente para atingir o que era bom e justo?

Os cabalistas respondem com um ecoante “sim”.

Eles explicam que este mandamento é uma lei acima da própria lei! Fazer o bom e o justo significa saber aplicar a conciliação e a flexibilidade na adoção de medidas.

É verdade que a lei é a base e o fundamento de uma sociedade. Sem ela, viveríamos num mundo de selva, onde o homem devoraria o seu semelhante e o mais fraco só perderia. A sociedade, nestas condições, seria dizimada rapidamente.

Mas, a alma da lei, a lei por cima da lei, é a conciliação e a flexibilidade no julgamento e aplicação desta mesma lei. Fazer o bom e o justo é ter a coragem de, se preciso, violar e transgredir a lei, para fazer algo que transcende os objetivos básicos da própria lei.

Para esclarecer este ponto, vou contar uma história do Talmud:

“Os carregadores do Raba, filho do Bar Chana, quebraram-lhe um barril de vinho durante o transporte. O Raba tomou-lhes os casacos para garantir que eles pagariam o prejuízo que causaram. Os carregadores foram reclamar perante uma das autoridades rabínicas e o Raba, filho do Bar Chana, foi intimado. O juiz disse: “Devolva-lhes as roupas!” O Raba perguntou: “Esta é a lei?” “Sim” – respondeu o juiz – “pois Moisés disse: ‘e farás o que é bom’”. O Raba devolveu os casacos. Os carregadores continuaram a reclamar e disseram: “Somos pobres e trabalhamos o dia todo. Estamos famintos e não temos dinheiro algum conosco”. O juiz ordenou: “Pague-lhes os seus salários”. O Raba perguntou: “Esta é a lei?” O juiz respondeu: “Sim, pois Moisés disse: ‘e farás o justo’”.

Estritamente de acordo com a lei, os carregadores deveriam pagar o valor do barril ao Raba, pois eles o deixaram cair e causaram um prejuízo ao seu dono. Mas o juiz (e o Raba) entenderam que isso não seria o bom e justo, apenas se estaria cumprindo a letra da lei. Moisés pede que, acima da lei, se aprenda a fazer o que é bom e justo, transcendendo a própria lei. Por isso o Raba devolveu os casacos e pagou os salários sem questionar. Isto sim representava a bondade e a justiça.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Devarim - Energia Semanal de 31/07 a 06/08

Esta semana lemos o primeiro trecho do último livro da Torá, o Deuteronômio. A Porção Semanal se chama Devarim (Deuteronômio 1:1-3:22).
Moisés, sabendo que está chegando o momento de sua morte, e sabendo que não vai entrar na Terra Prometida, começa a fazer um discurso ao povo, dando-lhes os últimos conselhos. Dá para imaginar a importância das palavras que vêm a seguir? Fica até difícil escolher um ponto a discutir, mas eu queria falar de um conselho especial que Moisés dá ao povo, logo no início do seu discurso: “Ouvi a causa entre vossos irmãos, e julgai com justiça” (Deuteronômio 1:16).
Uma das primeiras coisas que Moisés pede é que o povo aprenda a prestar atenção nos seus companheiros. O mandamento é aparentemente simples, pede só que ouçamos o que os outros têm a dizer, mas, na prática, quão complicado é isso!
Ouvir é diferente de escutar. Ouvir envolve uma atitude ativa, de escutar (atitude passiva) o que outro tem a dizer, mas também levar em consideração o que assim foi ouvido. Ouvir é aceitar a pluralidade do mundo, é reconhecer e conviver (no sentido mais profundo desta palavra) com as opiniões alheias e divergentes da nossa. Ouvir envolve também, obviamente, permitir que o outro termine a sua fala sem interrompermos. É aquela velha história: por isso temos dois ouvidos e uma boca. Deveríamos falar só a metade de tudo aquilo que nos permitimos ouvir.
Curiosamente, a palavra em hebraico para ouvir é relacionada à palavra “equilíbrio (lehaazin e izun, respectivamente). Sabemos que a nossa sensação de equilíbrio interno é dada pelo labirinto, uma estrutura que fica nos nossos ouvidos. Do mesmo modo, é o ato de ouvir que permite a criação do equilíbrio entre as pessoas.
É claro que precisamos enfatizar que o “ouvir” aqui nada tem a ver com abrir mão dos próprios princípios ou crenças fundamentais. Muito pelo contrário, a Cabalá sabe que um mundo saudável e equilibrado vem justamente da oposição entre ideias, da capacidade de que todos pensem de modo diferente, mas que, ainda assim, se ouçam.
Para ensinar esta ideia, os sábios do Talmud (Taanit 20) nos dizem que “o homem deve ser sempre mole como o junco e jamais duro como o carvalho”.
Será que isso quer dizer que o homem deve ser submisso e moldar suas ideias de acordo ao bel-prazer do outro? Obviamente, não! Isso fica evidente quando lemos a continuação da explicação dos sábios:
“O junco fica em lugares alagados, possui muitas raízes, e mesmo que todos os ventos do mundo venham e soprem sobre ele, não o movem de seu lugar. Ele apenas vai e volta com os ventos. Silenciaram os ventos, ele volta a ficar parado em seu lugar. O carvalho – todos os ventos do mundo sopram sobre ele e não o movem de seu lugar. Vem o vento sul, que é especialmente forte, e arranca-o, fazendo tombar sobre sua face”.
O junco e o carvalho são uma metáfora na obstinação aos nossos princípios. Devemos sempre nos enraizar no que acreditamos e nos nossos princípios, mas nunca a ponto de ser derrubado com os ventos mais fortes (as falas mais pungentes dos outros). Devemos saber manter o equilíbrio ouvindo sempre os outros, deixando que o vento da fala do outro passe por mim sem me desestruturar. É quando eu aprendo a manter o equilíbrio interno que o estado de ouvir de modo saudável pode surgir.
Mas, para encerrar a discussão, por que é tão difícil ouvir ao outro? As próprias palavras de Moisés dão a resposta: “Ouvi a causa entre vossos irmãos.” A dificuldade advém do fato de que não vemos o outro como um “irmão” de fato. A dificuldade de ouvir ocorre quando eu olho o outro e me sinto alienado dele, uma entidade a parte, com fronteiras definidas que precisam ser guardadas, tal qual uma cidade. Se a minha visão fosse de integração e eu passasse a enxergar o outro como parte de um todo maior, de uma grande família, certamente o ouvir viria com mais facilidade!

Massê - Energia Semanal de 24/07 a 30/07

Esta semana lemos o texto da Porção Semanal de Massê (Números 33:1-36:13).
Este é o trecho “verde” da Torá. Ao começar a dar as instruções ao povo para a entrada na Terra de Israel, Moisés lhes dá diretrizes ecológicas sobre como eles deveriam cuidar do solo, do ar e do ambiente. Até leis sobre como as cidades deveriam ser estabelecidas, com espaço em que não se deveria construir nada, são dadas.
No entanto, gostaria de chamar atenção para outro fato definido por Moisés nesta semana.
O nome desta porção (Massê) significa “viagens”. Logo no começo do texto, vemos Moisés registrando as várias viagens que o povo fez saindo do Egito até chegar a Israel. No seu relato, podemos ver que ao longo dos 40 anos no deserto, o povo fez 42 paradas!
Já dissemos em textos anteriores que a viagem dos judeus saindo do Egito rumo à Terra Prometida é uma metáfora do próprio caminho de evolução espiritual. Com as paradas narradas nesta semana, não é diferente. A lição a se tirar daqui é que tão importante quanto avançar no caminho, é saber parar. Aliás, os cabalistas perceberam que a viagem do Egito a Israel (extremamente curta) só demorou tanto por causa das paradas que o povo fez, e não por causa do trajeto em si.
Foi nos períodos de parada que aconteceram os eventos mais significativos de toda a travessia. Foi nas paradas que o povo recebeu a Lei de Moisés no Monte Sinai, foi nas paradas que o povo podia pegar o maná que descia do céu, foi nas paradas que ocorreu o evento com o bezerro de ouro e foi nas paradas que vemos as rebeliões do povo com Moisés.
Em todos estes eventos, independente se tenham sido positivos ou negativos, uma coisa é igual: D’us se manifestou neles. Lendo a história do Êxodo, podemos perceber que D’us só se manifesta nos períodos em que o povo está parado, e não viajando.
Na nossa vida não deve ser diferente. Estamos acostumados ao movimento, ao dinamismo, ao correr. Precisamos sempre ser mais, melhor, ter mais, acumular. De fato, a vida é dinâmica e seguir este fluxo é saudável, mas aprendemos que é nos momentos de parada que os “milagres” acontecem.
Ao longo de toda a Torá, podemos ver o embate entre o movimento e a parada. É isso que está expresso no mandamento de D’us de respeitar o Shabat, o dia de descanso total, de repouso absoluto. Este é o dia de maior santidade que podemos ter.
O momento mais importante da reza cabalística se chama Amidá, literalmente, parada. É um momento em que não se pronuncia uma palavra, não se faz gesto algum. Fica-se parado.
Por outro lado, o pão ázimo feito pelos judeus ao saírem do Egito, na pressa, que, por conta disso, não pode ser terminado e nem fermentado, é chamado de “halachmá aniá”, o pão da pobreza. Não importa que seja pão, por ter sido feito às pressas, como sua massa não “descansou”, ele é um pão pobre.
A questão a aprender aqui é que as vezes D’us aparece, como apareceu ao povo no Egito, e pede para que nós paremos. Mas, às vezes, nós mesmos desejamos “dar uma parada”. Ambas as formas são válidas, mas o importante é o modo com que encaramos a parada. A parada é uma simples escala ou é o nosso destino final? Ela é mais um ponto de passagem para depois seguirmos a viagem da vida, ou é o local em que deixaremos todos os nossos pertences e ficaremos “empacados”, sem avançar novamente?
Se você se encontra num momento de “parada”, de estagnação, não se desespere. Em primeiro lugar, pode ser que você mesmo decidiu (ainda que inconscientemente) fazer esta parada. Pode ser também que esta foi uma parada “ordenada pelos Céus”. O que importa é usar este momento para perceber que ele é necessário para continuar a viagem. É neste momento que D’us pode se revelar e é só da parada que podemos retirar as forças para levantar acampamento, carregar nossos pertences e seguir em frente!

Matot - Energia Semanal de 17/07 a 23/07

Esta semana, temos lições a aprender do texto da Porção Semanal de Matót (Números 30:2-32:42).
O fato que mais me chama atenção neste trecho é uma cisão que aparece entre as tribos de Israel. Os judeus estão na margem do rio Jordão, muito próximo de entrarem na Terra de Israel, a Terra Prometida. Já vimos em textos anteriores que, do ponto de vista da Cabalá, a Terra de Israel representa o objetivo final da evolução humana. Metaforicamente falando, é como se todos nós tivéssemos um caminho do Êxodo a seguir. Nascemos no Egito, escravos, devemos nos libertar, andar pelo deserto, com todas as incertezas inerentes a este lugar para, depois, eventualmente, entrarmos na Terra de Israel.
Mas, no trecho desta semana, vemos duas tribos (a de Rúben e de Gad) que preferem não entrar na Terra de Israel. E o que pode ser mais interessante, do ponto de vista dessas duas tribos, do que a elevação espiritual representada pela Terra Prometida? O que fez com que eles preferissem não passar o Jordão?
A resposta está em Números 32:1-4 e se resume em uma palavra “gado”. A Torá nos conta que estas duas tribos tinham muito gado e que a terra fora de Israel, às margens do Jordão, era um local propício para a criação deste animal. O que Rúben e Gad pedem a Moisés, na verdade, é trocar a terra espiritual de Israel pela terra produtiva e rica de fora de Israel. Em termos modernos, foi o amor ao dinheiro que fez com que estas duas tribos quisessem abrir mão de sua espiritualidade. O desejo destas duas tribos não era sair do Egito para chegar a Israel, sair da escravidão para se verem livres espiritualmente. O que eles queriam era serem “bem sucedidos”, no entendimento que a sociedade dá a essa expressão.
Vemos que eles estavam a tal ponto ligados a este objetivo (de acúmulo de riquezas), que em Números 32:16 eles dizem a Moisés: “Currais edificaremos para o nosso gado aqui, e cidades para nossas crianças”. Ao ouvir isso, Moisés diz (Números 32:34): “Edificai cidades para vós e para vossas crianças, e currais para vosso gado”.
Em sua ganância, Rúben e Gad chegam a colocar a construção de currais para o gado antes da construção de cidades para os filhos! Moisés, sabiamente, aconselha que eles não invertam a ordem das coisas e, primeiro, construam o essencial, as cidades, para depois o secundário, os currais para o gado.
Esta é a força do apego à riqueza: transformar o principal em secundário e o secundário em principal.
Com isso, não devemos entender que é preciso levar uma vida pobre, miserável ou “humilde” (como alguns pregam) para ter uma vida espiritual rica. No entanto, certamente não podemos deixar que nossa visão se deturpe e que passemos a considerar mais importante uma ovelha ou vaca do que uma criança. Não podemos ficar cegos a ponto de colocarmos como objetivo de nossa vida o acúmulo de riquezas em vez do crescimento e da evolução pessoal.
Não podemos nos tornar descendentes de Rúben e Gad, fazendo do principal o secundário e do secundário o principal, apreciando as riquezas mais do que as almas vivas.

Pinchas - Energia Semanal de 10/07 a 16/07

A Porção Semanal de Pinchás (Números 25:10-30:1) é o texto ligado a nós no momento.
Logo no início do texto, vemos um elogio ao personagem Pinchás. Para entender este elogio, precisamos entender o que Pinchás fez de tão importante.
No finzinho do texto da semana anterior, a Torá relata que os judeus começaram a se envolver em relações sexuais ilícitas com as moabitas (Números 25:1) e na prática de idolatria (Números 25:2). Por conta disso, D’us envia uma praga ao povo judeu “E os que morreram da praga foram vinte e quatro mil” (Números 25:9).
Neste contexto que surge Pinchás. Ele assassina um importante membro do povo judeu (o príncipe da tribo de Simão) e com isto detém a praga e a matança que estavam se abatendo sobre o povo. O que vemos escrito sobre isso é: “Pinchás, filho de Elazar … desviou Minha ira de sobre os filhos de Israel, ao levar Minha vingança entre eles, e assim não consumi os filhos de Israel com Minha ira. Portanto diz: Eis que lhe dou a Minha aliança de paz” (Números 25:11-12).
Aqui os cabalistas começaram a se fazer um monte de questionamentos! Que história é essa? Pinchás assassina um homem e recebe uma benção de D’us (a Aliança de Paz)? Tudo bem, ele deteve a praga no povo, mas, ainda assim, isso foi cometido com base em um assassinato! Como ele pôde ser louvado e elogiado? A paz é o prêmio que Pinchás recebe pela violência cometida?
A questão fica mais interessante quando vemos que, ao fazer isso, os sábios do povo quiseram expulsar Pinchás do acampamento, mas, como vimos, a voz de D’us aparece e legitima o ato cometido.
Devemos entender bem a lição a ser passada aqui. Em primeiro lugar, Pinchás representa atitudes enérgicas que muitas vezes precisamos tomar em nossa vida. O seu ato foi impulsivo, quase irracional, mas extremamente necessário, pois cessou a matança de uma praga que já tinha levado 24.000 pessoas!
Agora, certamente que não devemos entender disso uma apologia ao assassinato e ao modo de agir de Pinchás. O que os cabalistas ensinam é que, na verdade, o que Pinchás recebeu de D’us não foi bem uma benção, mas antes uma “característica” ou qualidade que ele precisava ter em seu caráter.
Quando D’us decide lhe dar a Aliança de Paz, isso mostra que Pinchás precisava ter este poder consigo para não irritar e não se encolerizar como ocorreu. Além disso, a Paz precisava ser posta dentro de Pinchás para que ele não guardasse remorso pelo homem que assassinou ou se sentisse orgulhoso do que fez. A Paz simboliza a serenidade que Pinchás precisava ter e não tinha.
Quando agimos como Pinchás e “matamos um homem”, agimos energicamente e irracionalmente, de maneira drástica, isso viola a nossa paz de espírito. É a sensação que temos de “estou fora de mim”. Neste momento, estamos, literalmente, loucos e ensandecidos. Atos deste tipo, atos de violência, por assim dizer, corrompem o espírito humano, sempre.
Estando neste estado, o que precisamos para nós é a Paz de Espírito, a calma e a serenidade no agir. De preferência, antes de que nos exaltemos e façamos algo do que nos arrependeremos mais tarde. Mas, mesmo que já tenhamos sido enérgicos e “perdido as estribeiras”, é importante voltarmos ao nosso “normal”, readquirindo o controle de nós mesmos. Mesmo que isso tenha acontecido, é sempre importante readquirir a Paz de Espírito.

Balak - Energia Semanal de 03/07 a 09/07

Nesta semana, a Porção Semanal de Balak (Números 22:2-25:9) nos dá dicas preciosas para nossa vida. O texto nos apresenta uma das personagens mais interessantes, na minha opinião, de todo o Pentateuco: Bilám (Balaão).
Logo de cara ficamos sabendo que Bilám tinha um enorme poder espiritual. Ele era um profeta poderoso. Conseguia falar com anjos e se comunicar diretamente com D’us. Mas, com o decorrer da história, logo vemos como Bilám começa a sofrer em sua vida por causa de sua ganância e de seus desejos mais materiais.
A história nos conta que o Rei Balak vem procurar Bilám por causa de seus dons espirituais. O Rei estava incomodado com a aproximação do povo judeu ao seu território, temendo uma guerra e temendo perdê-la. Balak também era um homem sábio, e entendia que os judeus tinham tanto sucesso em suas guerras por causa da ajuda de D’us. Então, o Rei Balak queria, na verdade, “contratar” Bilám (pagando uma fortuna, em ouro) para que ele “amaldiçoasse” o povo de Israel e os fizesse perder a guerra.
Apesar de sua ganância, Bilám deixa bem claro que só “a palavra que Deus puser na minha boca, essa falarei.” Bilám, em sua sabedoria, está mostrando que não pode “amaldiçoar” o que é naturalmente “abençoado”. Por mais poderosos que sejamos como seres humanos, existe um limite do nosso poder de ação. Este limite é definido pelos desejos e vontade de D’us.
A Cabalá nos ensina, então, que existem dois tipos de “não consigo” no mundo. Imagine que uma pessoa oferece dinheiro a outra para que mate alguém. Provavelmente, a pessoa dirá: “não consigo”. Agora imagine que esta mesma pessoa ofereça dinheiro para que a outra pule do décimo andar e voe. A reposta também seria “não consigo”.
Apesar de a reposta ser idêntica, o conteúdo de cada “não consigo” é muito distinto. No primeiro caso, o “não consigo” reflete uma incapacidade “subjetiva”, baseada em valores morais, éticos, cultura, etc. No segundo caso, o “não consigo” proferido pela pessoa é objetivo. Não se trata de valores ou ideias internas. No primeiro caso, podemos entender que, dependendo da pessoa, e do valor oferecido, o “não consigo” se tornaria um “consigo”. Já no segundo caso, seja pelo dinheiro que for, e seja a pessoa que for, ela jamais poderá voar.
Estas duas formas de dizer “não consigo” nos ajudam a entender a posição de Bilám frente ao Rei Balak. Ao dizer que talvez não conseguisse amaldiçoar o povo judeu, Bilám estava realmente falando como no segundo caso, de uma impossibilidade objetiva, pois não podia violar leis espirituais que eram maiores do que ele. Mas, o Rei Balak, conhecendo a ganância e o desejo de Bilám, oferece-lhe dinheiro, tentando, deste modo, transformar o “não consigo” objetivo de Bilám em um “não consigo” subjetivo, um “não consigo” por causa do valor que você me oferece.
Esta lição é extremamente importante para cada um de nós. Muitas vezes, deixamos nos passar por Balak e Bilám e queremos confundir os domínios do “não consigo”. Às vezes surge em nós um desejo extremamente positivo e saudável, como “eu quero ser uma pessoa melhor”, mas, ao pensarmos sobre o assunto, acabamos por concluir: “no entanto, eu não consigo”. E logo em seguida deixamos de agir, perdemos a chance de melhorar. Qual dos dois “não consigos” é este? Será que existe realmente um impedimento objetivo para isso, ou estamos nos baseando apenas nos nossos valores e ideias?
Isso nos ensina que a maioria de nossas limitações – de nossos “não consigo” – são impostos a nós por nos mesmos. Em poucos casos o nosso não consigo é realmente espiritual e saudável, baseado numa sabedoria do mundo espiritual e das leis do mundo. Na grande maioria das vezes, o nosso “não consigo” só existe porque nos falta a motivação necessária (simbolizado pelo ouro que Balák deu a Bilám) para agir. É assim que surge, por exemplo, a depressão, já chamada de o mal do nosso século. A pessoa passa a colocar um monte de “não consigos” em sua vida e carece da motivação necessária para sair da cama e fazer valer a sua vontade.
Para encerrar a energia desta semana, contarei uma historinha ligada ao nosso tema:
Harry Houdini, um dos maiores mágicos de todos os tempos, tinha uma habilidade especial: ele conseguia escapar de qualquer cela trancada em, no máximo, 60 minutos. As suas condições era de que o deixassem entrar na cela com suas roupas normais e que ninguém ficasse observando seu trabalho de escapar.
Os moradores de uma pequena cidade britânica decidiram então desafiar o grande Houdini. Eles anunciaram que tinham acabado de desenvolver uma cela à prova de fuga e convidaram Houdini para testá-la. O desafio foi imediatamente aceito. No dia marcado, deixaram-no entrar na cela com suas roupas normais. Uma pessoa fechou a porta da cela, girou a chave de uma maneira estranha e todos se afastaram para deixar Houdini trabalhar sozinho.
O segredo de Houdini é que ele escondia uma barra de aço longa e flexível no seu cinto e utilizava-a para abrir as trancas das celas de onde escapava. Assim que as pessoas se afastaram, ele retirou a barra e trabalhou por 30 minutos, com seu ouvido muito próximo da tranca, mas nada acontecia. 45 minutos se passaram, ele transpirava muito mas não conseguia abrir a tranca. Parecia realmente à prova de fuga, era impossível abrir aquela cela! Depois de duas horas trabalhando incessantemente, ele caiu, exausto, apoiado na porta da cela. Para sua surpresa, a porta se abriu. Eles não haviam trancado a porta! Este era o truque para enganar o mais famoso artista das grandes fugas!
Houdini aprendeu naquele dia uma das lições mais importantes de sua vida: ele podia escapar de qualquer cela e abrir qualquer porta. A única porta que ele não conseguia abrir era a que estava trancada na sua mente.

Chucát - Energia Semanal de 26/06 a 02/07

Nesta semana, a energia ligada a nós vem da Porção Semanal de Chucát (Números 19:1 -22:1).
O texto mencionado traz muitas informações e muitas coisas acontecem ao mesmo tempo. Mas, dentre todos os pontos, gostaria de destacar um dos mandamentos mais estranhos que o povo judeu recebe no deserto: aquele relacionado com a vaca vermelha.
Quando uma pessoa tocava o corpo de um morto, ela se tornava espiritualmente impura. Para se purificar, havia um ritual. Uma vaca completamente vermelha (um animal raro que, ao consta, só apareceu nove vezes na face da Terra) deveria ser sacrificada e queimada. As suas cinzas deveriam ser misturadas com água e outros ingredientes, e tudo isso devia ser aspergido sobre a pessoa impura.
A Cabalá nos ensina que vivemos num mundo de dualidade. Alguns mandamentos que D’us dá ao povo judeu são lógicos e racionais. São facilmente compreensíveis e, dificilmente, precisam ser questionados. Exemplos deste tipo de mandamento são: honrar os pais, não matar, não roubar, etc. No entanto, existem mandamentos que, segundo a nossa lógica, são irracionais e parecem não conter motivo nenhum. Este mandamento, da purificação com a vaca vermelha, é um deles.
O importante é notar que a falta de lógica e razão neste mandamento é aparente, segue apenas a nossa lógica, mundana. Na verdade, a Cabalá diz que D’us contou o propósito desta ordem a Moisés, mas preferiu deixar a explicação oculta do resto do povo.
Estes dois tipos de mandamentos representam dois tipos de forças e leis que agem no nosso mundo. Por um lado, temos as leis “físicas”, que são compreensíveis e estudadas pelos seres humanos: a gravidade, a eletricidade, o magnetismo, etc. Mas, por outro lado, temos leis espirituais que, na maioria das vezes, são irracionais e incompreensíveis para nós: o fato de um cadáver transmitir impureza, da carne de porco ser considerada impura, etc.
A pergunta que se coloca, então, é: Por que D’us criou algumas leis que nos são facilmente compreensíveis e outras que aparentemente não possuem explicação?
Diz a Cabalá que isso é feito “de propósito”, por assim dizer. É por vivermos num mundo deste tipo, com esta dualidade, que podemos aprender a ter respeito e admiração por algo que é, claramente, superior a nós. Se o ser humano, usando o seu intelecto, entendesse absolutamente tudo o que lhe rodeia, tudo o que lhe cerca, e todas as leis da vida, o que aconteceria? Você pode imaginar que tipo de vida este ser humano viveria?
Em primeiro lugar, grande parte de seu livre-arbítrio iria embora, pois sabendo de todas as leis, como ele poderia se permitir errar? Caso o ser humano vivesse nesse estado de onisciência, ele seria uma figura mais divina, é verdade, mas, portanto, viveria uma vida mais “impiedosa”, onde erros e transgressões não seriam permitidos. Por acaso um “deus” pode errar?
Ao ocultar dos seres humanos algumas leis de funcionamento do mundo, D’us permitiu espaço para que os seres humanos errem, transgridam e, com isso, não sejam punidos, mas, pelo contrário, purificados, como acontecia com as cinzas da vaca vermelha! O erro é parte integral do nosso processo de evolução.
O fato de vivermos num mundo que não se descortina totalmente perante nossos olhos é um extremo ato de Bondade e de Amor por parte de D’us. Se vivêssemos num “mundo da verdade’’, onde tudo é sabido e a verdade é explícita, nós sucumbiríamos. Propositalmente, o nosso mundo foi feito com um lado revelado e um lado oculto, um lado explícíto e outro implícito, um lado racional e outro não. É só tendo o poder de escolha (pelo menos dois elementos) que o ser humano consegue viver num estado de livre-arbítrio. Se o mundo fosse “monótono” (literalmente, “com um só tom”), que tipo de escolha o ser humano poderia fazer?
Agora, mesmo que exista essa “separação” no nosso mundo, a Cabalá ensina que isso não é um impeditivo para que questionemos a criação e as coisas de nossa vida. Não é por que algo não tem lógica que eu devo aceitá-la passivamente. A Cabalá incentiva, e muito, os questionamentos, a procura por entendimento e a busca por respostas. É por isso mesmo que Moisés pede a D’us: “E agora, rogo, se achei graça aos Teus olhos, faze-me, rogo, conhecer Teus caminhos” (Êxodo 33:13).
Perceba que a questão de “conhecer os caminhos de D’us” é associada ao fato de “achar graça aos olhos Dele”. Infelizmente, vivemos numa geração fast-food e queremos todas as respostas de imediato, todas as informações para ontem, toda a “verdade” na nossa cara. Cada vez mais gente procura descobrir mistérios profundos de D’us sem nunca ter aberto um livro de espiritualidade ou sobre valores humanos. A Cabalá nos ensina que não é assim que funciona. Se queremos estudar engenharia, precisamos ler um livro sobre o assunto. Para entender o corpo humano, precisamos estudar medicina. Se queremos entender D’us e o mundo que nos está oculto, precisamos estudar a espiritualidade. Este conhecimento, por sua vez, só nos será revelado quando (1) questionamos as coisas da maneira certa (sabendo que existem coisas racionais e coisas não-racionais) e (2) quando somos “graciosos” do ponto de vista espiritual (quando nos esforçamos verdadeiramente para obter respostas, não procurando soluções prontas).

Korach - Energia Semanal de 19/06 a 25/06

Esta semana estamos sintonizados com a Porção Semanal de Korach, que vai de Números 16:1 a Números 18:32.
Lemos mais uma vez uma rebelião do povo de Israel contra Moisés. Na verdade, nesta semana, ficamos sabendo que um pequeno grupo, liderado por Korach, é quem decide se rebelar contra as normas de D’us e o favoritismo de Moisés como seu representante.
Na verdade, o grande problema de Korach é, por que Moisés foi escolhido para líder, e não ele mesmo, Korach.
A situação parece familiar, não? Quantas vezes nos questionamos por que outra pessoa está em certo cargo ou posição e não nós mesmos?
Do que vemos narrado nesta semana, fica imediatamente claro que Korach é um personagem malvado, mas com muita lábia. Através de seus argumentos e lógica, ele consegue convencer uma parte do povo a se unir a ele e questionar a autoridade de Moisés. Korach, representa, então, a voz do povo judeu antes do Êxodo. Korach é a voz da mentalidade escrava de cada um de nós.
Então, na verdade, a pergunta mais profunda aqui não é por que ele é líder e não eu, mas por que nós insistimos em colocar a voz da escravidão – o Korach dentro de nós – como questionador da liderança do Moisés em nós?
Por que nós (e o povo judeu, como narrado na Bíblia), continuamos exaltando a vida escrava no Egito como paradigma da virtude? Por que não seguir Moisés, D’us, os dois espiões que falam bem da Terra? Aliás, por que a relutância em entrar na Terra, como vimos no texto da semana passada?
Acredito que a resposta para isso se encontra na auto-imagem e conhecimento que temos de nós mesmos. Somos acostumados, desde pequenos, a nos aliar a Korach, sermos escravos no Egito, e seguir esta mentalidade. Quando, eventualmente, saímos do Egito e somos postos no deserto, continuamos reclamando das coisas e tendo como modelo o mesmo Korach. Louvamos a vida que tínhamos, olhamos para o passado, em vez de olhar para o futuro.
Se nós conseguíssemos mudar a visão que temos de nós mesmos, se conseguíssemos nos ver como seguidores de Moisés (e não de Korach), a vida seria muito mais fácil.
Vou contar uma historinha que deve ilustrar bem este conceito.
Na década de 50, um grande cabalista foi fazer uma viagem de avião de primeira classe e, por acaso, se sentou do lado do famoso dramaturgo, Arthur Miller. O dramaturgo ficou observando como os discípulos do cabalista o tratavam com todo cuidado e reverência. Ele observou como os discípulos acompanharam o cabalista por todo o aeroporto, o acomodaram em sua poltrona e constantemente vinham verificar se ele estava bem e se precisava de alguma coisa.
Intrigado, Arthur Miller se virou para o cabalista e perguntou: “Rebe, como pode ser que eu dou aulas na universidade, um pilar de sabedoria secular, e sou tratado como um qualquer pelos alunos, ou até mesmo com desrespeito, enquanto você, que ensina uma tradição arcaica, é tratado com respeito e com amor, como se fosse um parente, pelos seus discípulos?”
O cabalista sorriu e respondeu: “É muito simples. Você, uma pessoa secular, diz para os seus alunos que eles vieram dos macacos, ou seja, quando eles olham para você, eles veem em você uma pessoa uma geração mais próxima do seu ancestral comum, o macaco. Nós, os cabalistas, dizemos para os nossos alunos que eles descendem diretamente de D’us, portanto, quando eles olham para mim, eles veem em mim uma pessoa uma geração mais próxima de D’us.”

Shlach Lecha - Energia Semanal de 12/06 a 18/06

No texto desta semana, (Shlach Lechá: Números 13:1-15:41) lemos o desastroso episódio dos doze espiões enviados por Moisés para verificar como era a Terra de Israel. Por conta do que eles relatam a Moisés e ao povo, o povo judeu se recusa a entrar na Terra de Israel. Isso ira a D’us e Ele decreta que os judeus, então, andarão por mais 38 anos no deserto.
Imediatamente, surgem algumas perguntas: Se D’us queria que os judeus entrassem na Terra de Israel, por que Ele não os levou para lá? Durante toda a caminhada no deserto, D’us indicava o que os judeus deveriam fazer e para onde ir, através de uma nuvem. Por que D’us não usou a nuvem para conduzir o povo para dentro da Terra?
Em segundo lugar, mesmo que os judeus não tenham desejado entrar na Terra, vagar por mais 38 anos no deserto não é um excesso de D’us?! Era preciso tanto tempo assim?
E, por fim, e talvez mais importante, se D’us sabia que os espiões enviados por Moisés voltariam trazendo más notícias que desanimariam o povo, Ele não podia pedir para que Moisés NÃO mandasse estes homens?
A Cabalá ensina que a entrada na Terra de Israel representa o momento de elevação espiritual na vida da pessoa.
Toda pessoa que deseja se elevar espiritualmente segue por um caminho metaforizado pelo Êxodo dos judeus no Egito. Todos nós saímos do Egito, o local de escravidão, para o deserto, o local de perda de direção, falta de leis, e sensação de não ter para onde ir, para, finalmente, entrar na Terra de Israel.
Existe uma máxima cabalística que diz que “não existe coerção na espiritualidade”. Enquanto os judeus (e nós) estavam no Egito e no deserto, eles eram “coagidos” a fazer o que se lhes obrigava, seja pelos chicotes dos capatazes egípcios, seja pela nuvem que D’us enviava e os ordenava a seguir.
No entanto, a entrada na Terra de Israel é uma decisão que exige livre arbítrio, e, de modo algum, pode ser uma decisão forçada. Quando nós estamos na fronteira entre o deserto e a terra de Israel, cabe a nós darmos o passo que nos permite a elevação espiritual. Não há ninguém no mundo, seja nosso mestre espiritual, seja nossa família, amigos, ou até mesmo D”us!, que pode nos forçar a dar este passo. Não existe coerção na espiritualidade.
Ao se negarem a entrar na Terra de Israel, os judeus estavam, por assim dizer, “selando o seu destino”, e, portanto, lhes cabia ficar peregrinando no deserto. Os 38 anos em que isso ocorreu são um número simbólico que mostra o que acontece com a pessoa que chegou às portas da Terra de Israel, a espiritualidade, mas, resolveu voltar parra trás, em vez de dar um passo a frente. Esta pessoa fica no deserto da vida, a meio caminho do Egito e a Terra de Israel. Os 38 anos representam um número de anos produtivos na vida da pessoa. Neste caso, é como se a pessoa que desistiu de entrar na Terra desperdiçasse os melhores anos de sua vida, para ficar perambulando pelo deserto.
E, por fim, como explicar o envio dos espiões? Mais uma vez, eles representam o que geralmente acontece em nossa vida e a necessidade de livre arbítrio.
Antes de tomarmos uma decisão na vida, costumamos mandar os nossos espiões analisar o terreno e dar o seu parecer sobre o que viram. Baseado em seus relatos, decidiremos o que fazer. É isso que nos confere o livre arbítrio.
Mas, temos que lembrar que os espiões enviados saem do próprio povo de Israel. Os espiões são “funcionários” do nosso próprio cérebro. Portanto, estes espiões que enviamos são “corrompidos”, por assim dizer, e têm a tendência de passar-nos informações viciadas de propósito, que agradarão a nossa mentalidade e justificarão a nossa falta de atividade e a manutenção do nossos “status quo”.
Dez dos espiões mandados por Moisés voltam falando que a Terra de Israel é horrível, que será difícil conquistar o território, e que muitos problemas ainda serão sofridos pelos judeus. Estes eram os espiões ligados à mentalidade do povo, com o medo de dar o passo decisivo rumo à espiritualidade e o livre arbítrio. Era justamente isso que o povo queria ouvir e o que estavam esperando para poder explicar o motivo para não quererem entrar na Terra.
Apenas dois dos espiões, os que realmente não estavam ligados ao povo e realmente viam a índole do trabalho espiritual, relataram que a terra era maravilhosa e boa. Estes eram os espiões que queriam fazer o povo crescer e evoluir.
Quantas vezes, em nossa vida, mandamos espiões que “trabalham para nós” e que vão nos dar as informações “que queremos ouvir”? Quantas vezes usamos destes espiões para moldar nossa realidade e influenciar o nosso livre arbítrio? Mais do que isso, quantas vezes paramos de ouvir os dez espiões mandados por nós mesmos, ligados a nossos valores, para ouvir os dois espiões que realmente querem nos fazer crescer, evoluir e entrar na Terra Prometida de Israel?

Behaalotecha - Energia Semanal de 05/06 a 11/06

No texto desta semana (Números 8:1-12:16) vemos uma mensagem que, basicamente, trata de rebeliões e de conflitos.
Logo no começo da porção semanal lemos que o povo judeu está no deserto e começa a reclamar com Moisés sobre a condição de vida que tinham que aturar. Moisés se rebela com D’us quando Ele pergunta por que o povo estava se rebelando. E, por fim, Aarão e Miriam (irmãos de Moisés) também se rebelam com seu irmão, querendo dividir a liderança do grupo.
Qual é o traço de caráter humano que faz uma pessoa se rebelar? Na história que vemos, a rebelião do povo, em especial, parece muito injusta. O povo era escravo no Egito, levava uma vida miserável e sofrida. Moisés vem, os liberta e promete levá-los a uma terra muito melhor de onde “emana leite e mel”. Mesmo assim, na liberdade e no meio do caminho para esta terra, o povo reclama. Eles chegam a falar que a vida no Egito era melhor!
Se olharmos o que levam as pessoas a se rebelar no mundo hoje, será difícil encontrar um denominador comum. Na América Latinas as rebeliões podem ser de cunho político e em favor da liberdade de direitos. No mundo árabe, pelo contrário, as rebeliões podem se dar por um sentimento generalizado de falta de liberdade de expressão, ou uma situação econômica desfavorável. Já na Europa, vemos rebeliões motivadas por que está se dando direito demais a todo mundo, inclusive estrangeiros. A rebelião se dá pois os políticos são muito fortes, as leis muito liberais, etc.
Então, como explicar este sentimento humano?
Os cabalistas ensinam que o único fator que leva a uma rebelião, e que é o ponto comum em todos os casos mencionados, é a infelicidade. No entanto, o que traz infelicidade para uma pessoa não é a mesma coisa que traz infelicidade para outra.
Se isso é verdade, como podemos saber o que traz felicidade, para assim sabermos o que nos deixa infelizes e podermos fazer nossa rebelião? Será que devemos nos rebelar contra a falta de direitos políticos ou contra o excesso deles? Devemos nos rebelar contra o liberalismo econômico ou contra o protecionismo? Devemos nos rebelar contra a falta de liberdade de expressão ou a liberdade de expressão excessiva? Em última instância, devemos nos rebelar por sermos escravos no Egitou ou por que um tal Moisés nos libertou e nos trouxe ao deserto?
Fica evidente que sem um parâmetro em que confiar, jamais saberemos o que nos alegra e o que nos desanima; o que nos deixa feliz e o que nos faz infeliz. Sem este parâmetro, não conseguimos dizer o que é bom e desejável, muito menos o que é ruim e indesejável e que, portanto, deve ser combatido.
Esta era a situação do povo de Israel no deserto. Eles não tinham parâmetros de comparação. Eles tinham sido escravos por gerações e agora eram homens livres. Mas, havia um problema! Eles não sabiam o que fazer com esta liberdade. Eles não tinham um parâmetro com que comparar esta liberdade. Ou melhor, tinham, mas o seu parâmetro era o de escravidão.
É mais ou menos isso que acontece com a maior parte dos adolescentes, que passam da infância para a vida adulta e, neste meio tempo, não sabem que parâmetros seguir. Sigo os parâmetros infantis ou o da vida adulta? A indecisão e a incerteza do que escolher criam o espírito de rebelião.
E de onde podem vir estes parâmetros que nos ajudam na vida? Da política, da religião, dos nossos pais? Obviamente todos estes fatores, e muitos outros, influenciam nos parâmetros que temos na vida. São estes modelos que nos vão dizer se vamos nos rebelar ou não por alguma coisa. No entanto, o parâmetro realmente valioso é aquele que é fruto de reflexão interna e de um processo de auto-conhecimento.
A pessoa que estuda a si mesmo (e que, portanto, conhece como é o ser humano) invariavelmente chega a um padrão de parâmetros morais e éticos muito elevados. Esta pessoa começa a se rebelar, por exemplo, contra atitudes de preconceito, racismo, desigualdade e injustiça. Caso isso não aconteça, a pessoa não está num caminho de auto-conhecimento correto. Quando temos nossos parâmetros de mundo deturpados, isso mostra que nossa base de escolhas é falha e aí ficamos como o povo de Israel no deserto. Somos livres, mas ficamos nos rebelando com nosso líder, pois no Egito, onde éramos escravos, era melhor.