domingo, 29 de abril de 2012

Emor - Energia Semanal de 29/04 a 05/05


Nesta Energia Semanal – Emor – o texto bíblico termina relatando o caso de um homem do povo de Israel que amaldiçoou a Deus. Como o que ele tinha feito era um pecado do qual não se sabia qual era a punição, o homem é preso até que Moisés fale com Deus e veja o que deve ser feito.
O comentarista da Torá, Rashi, explica que este homem não era o único que estava na prisão. Junto dele, no mesmo período, havia outro homem que tinha a sentença de morte decretada, e que aguardava apenas pela forma de execução que seria escolhida.
Ao citar este conto, o Rashi diz que embora os dois homens estivessem presos no mesmo período, eles foram colocados em celas diferentes, de maneira a não terem absolutamente nenhum contato entre si.

Por que isso? Qual era a importância deste isolamento entre os presos?

O cabalista Rav Mordechai Gifter diz que os dois homens foram separados para que eles não passassem por sofrimentos desnecessários. O homem que amaldiçoou a Deus e ainda não sabia qual era sua pena conversaria com o outro prisioneiro, condenado à morte, e acharia que também iria morrer.
Por outro lado, o homem condenado a morte, ao ver que o outro homem estava apenas preso e que talvez não fosse morrer, sofreria, por saber que só ele padeceria de um destino tão cruel.

Segundo este cabalista, então, a separação foi um ato de sensibilidade, uma forma de não causar sofrimentos desnecessários aos outros.

Deste episódio aprendemos o grau de sensibilidade que devemos ter com o sofrimento dos outros, mesmo com pessoas que cometerem transgressões graves. Muitas vezes, estas pessoas estão sofrendo pelo simples fato de terem consciência do que fizeram, e não somos nós que precisamos trazer mais sofrimento à pessoa.
Em nossa vida cotidiana, podemos nos lembrar das situações em que muitas vezes somos obrigados a dar uma bronca em alguém que fez algo de errado. Talvez um filho, um aluno, ou um amigo ou ente querido.

A Cabalá diria para sermos cautelosos e não causar mais sofrimento do que o que a pessoa já está sentindo pelo ato que cometeu. Muitas vezes, em vez de gritos que não funcionariam, uma demonstração de amor e de preocupação com o erro que a pessoa cometeu tem um efeito muito maior.

Portanto, sempre que estivermos em uma discussão ou prestes a explodir e causar um sofrimento a alguém, devemos pensar se não existe outra maneira de fazer as coisas.

Não é à toa que os sábios do Talmud ensinam: "coisas que saem do coração entram no coração".

domingo, 15 de abril de 2012


Tazria e Metsorá - Energia Semanal de 15/04 a 21/04



Esta semana lemos duas porções da semana juntas - Tazria e Metsorá.

Ambas as porções nos falam de uma doença espiritual – chamada Tsaráat – que causava manchas na pele da pessoa contaminada, como uma espécie de lepra.

Para se curar deste mal, a pessoa acometida precisava, entre outras coisas, fazer o sacrifício de dois pássaros.

Pela ótica da Cabalá, tudo o que está na Bíblia tem um significado além do sentido literal. A questão, então, é: o que os pássaros simbolizam e por que eles são necessários para a cura da Tsaarát?

Segundo a tradição, essa doença espiritual acomete a pessoa por três motivos: ou pela prática da difamação (Lashon Hará), ou por causa do orgulho, ou ainda por causa do desejo descontrolado por dinheiro e bens materiais.

Os pássaros, então, aludem às três causas de Tsaarát.

Os filhotes de pássaro ficam o tempo todo abrindo a boca e piando, o que serve como metáfora para aquelas pessoas que falam demais, o tempo todo e, muitas vezes sem pensar no que vão dizer. É isso que constitui o Lashon Hará.

Outra característica dos pássaros, muito relevante em nossa metáfora, é que eles são animais que sempre estão sobre os outros animais. É assim que se consideram as pessoas orgulhosas, sempre acima das outras pessoas; e os bisbilhoteiros e fofoqueiros, que ficam sempre “sobrevoando” a vida dos outros para tentar descobrir alguma coisa.

E, finalmente os pássaros podem caminhar na terra, mas também podem, a qualquer momento, levantar voo e ir embora. Essa é a alusão para aquele que deseja muito o dinheiro e os bens materiais. Geralmente essas pessoas se esquecem de que nossas propriedades podem "voar". Em um momento podemos ter tudo em nossas mãos, e no instante seguinte tudo pode ter voado pelos ares.

Agora, a pergunta mais importante é: por que estes traços humanos, que parecem independentes entre si, são postos justos e considerados causa de uma doença espiritual? Por acaso os três males não se referem só à coisas físicas?

Justamente este é o problema. A pessoa que começa a ter um foco ou um desejo incontrolável por dinheiro demonstra que não entendeu o propósito da vida, e não entendeu que esta vida é mais do que o puramente físico, este mundo em que vivemos. Quando a pessoa não entende que existe algo mais importante do que o material, ela começa a achar que suas posses e seu dinheiro a transformam em uma pessoa melhor que os outros. Em seguida começa a sentir orgulho. E finalmente, por se sentir melhor do que os outros, se acha no direito de menosprezá-los, chegando ao último mal, o Lashon Hará.

Por isso esses três males foram relacionados na Torá e definidos como causa de uma doença espiritual, pois eles revelam uma profunda falta de entendimento da vida e de saber da prioridade ao que realmente importa neste mundo.