domingo, 18 de setembro de 2011

Nitsavim - Energia Semanal de 18/09 a 24/09

Na porção da Torá desta semana vemos a preocupação que Deus tem para que o povo judeu não se entregue à idolatria. Como em várias outras partes da Torá, Deus pede que não idolatremos falsos deuses.

Mas por que os israelistas – que, como já vimos em textos anteriores, somos nós mesmos – idolatrariam deuses de madeira, de pedra, de prata ou de ouro? Isso não é obviamente uma grande tolice? Por que é preciso que a Torá nos faça declarações tão fortes contra a idolatria e seus males? Será que não somos inteligentes o suficiente para vermos sozinhos que a idolatria não tem sentido nenhum?

A Cabalá sabe que as pessoas podem ser ingênuas. Quando elas estão com medo ou confusas, elas podem chegar a fazer quase qualquer coisa. No desespero, as pessoas podem se virar para entidades físicas que elas creem lhe darão “boa sorte” ou a quem elas atribuem poderes mágicos – ou até divinos. Nestas circunstâncias, as pessoas podem chegar a idolatrar objetos de madeira e de pedra, de prata e de ouro.

Qual é a essência da idolatria? É a atribuição de um falso valor a um objeto. O idólatra é aquele que se convence de que algo falso é verdadeiro. Em geral, como outras pessoas também cultivam estas falsidades, elas realmente parecem ser verdade.

O grande mal da idolatria é acreditar no que é falso e abandonar a verdade. A porção desta semana nos alerta para não cairmos nesta armadilha.

Os demagogos e os especialistas em relações públicas tentam nos fazer crer em coisas que sabemos serem erradas ou desnecessárias; mas quanta gente não sucumbe a estas falsidades. Os marqueteiros e mestres da propaganda fazem a mesma coisa, nos fazem rever valores e acreditar em coisas que, normalmente, não acreditaríamos. E quantas pessoas sucumbem a isso? Quantos não se tornam idólatras?

O texto desta semana pede que tentemos rejeitar as mentiras ao máximo. Na nossa sociedade, existe muita pressão sobre nós para que tenhamos a crença de que ao ter este ou aquele objeto material seremos bem-sucedidos e felizes. Existe muita pressão sobre nós para que acreditemos que esta ou aquela pessoa é sábia, ou grandiosa, só por causa de títulos e honrarias que lhe foram conferidas.

É fácil seguir a manada da multidão e perder a nossa capacidade de julgar as coisas com clareza.

Durante esta semana, vamos tentar não ser idólatras: não vamos avaliar as coisas ou as pessoas de modo equivocado. Vamos tentar avaliar as coisas pelo que elas realmente são — e não pelo que elas aparentam ser.

domingo, 11 de setembro de 2011

Ki Tavo - Energia Semanal de 11/09 a 17/09

A Porção Semanal Ki Tavô (Deuteronômio 26:1 – 29:8) pede uma coisa mais ou menos curiosa dos seres humanos: que saibam agradecer as boas coisas da vida.

Analisando a psicologia humana, a Cabalá começou a notar que uma pessoa que tem abundância e felicidade na vida, ao invés de se conectar com o lado espiritual e agradecer ao Criador por tudo o que tem, se afasta. As pessoas só se voltam para a espiritualidade em momentos de dificuldade, de dor, de opressão e de angústia. A reza mais importante do judaísmo – o “Shemá Israel” – até nos alerta contra isso: “E você vai comer e vai se saciar. E se cuide para que seu coração não se desvie”.

A questão que devemos fazer, então, é: por que isso ocorre?

A Cabalá explica que os seres humanos tendem a não valorizar as bondades recebidas pois assim elas não se sentem endividadas com ninguém e com nada. O sentimento de liberdade e de “consigo viver por mim mesmo” imbuídos nos seres humanos fazem com que ele não queira reconhecer que algumas coisas na sua vida – as boas coisas – foram causadas por circunstâncias externas. É mais interessante pensar que ele é o fruto das conquistas. Somente os erros e fracassos é que nós gostamos de atribuir aos outros: o Universo, Deus, a família, a sociedade... nunca nós!

Outro motivo pelo qual frequentemente não agradecemos tudo o que recebemos é a correria e o stress do dia-a-dia. Como estamos sempre focados em trabalhar, ganhar dinheiro, cumprir tarefas e obrigações, ficamos com menos tempo livre para olhar as bondades recebidas. Mais uma vez, desnecessário dizer, toda posição conquistada no ambiente de trabalho, cada grau galgado na carreira, é atribuído a méritos pessoais. Os fracassos... são dos outros: o chefe, o colega de trabalho, a empresa, a situação de mercado do Brasil.

Mas se esta é a natureza do ser humano, como aprender a sair deste círculo vicioso e simplesmente agradecer o que recebemos? A resposta está no texto desta semana: antes de tudo, precisamos parar e refletir sobre a vida. É preciso parar e olhar para trás, ver o nosso histórico.

Quando fazemos uma análise de nossa vida, olhando tudo o que passamos e a que ponto chegamos, temos aí o primeiro passo para ver que, na verdade, na verdade, não chegamos ali sozinhos, como gostaríamos de pensar. E ao valorizar o ponto de chegada, passamos a valorizar também os fatores externos que nos levaram a ele. Daí surge o sentimento espontâneo de gratidão.

Ki Tetsê - Energia Semanal de 04/09 a 10/09

O texto desta semana (Deuteronômio 21:10 – 25:19) é uma continuação do discurso final de Moisés. Aqui ele passa cerca de 70 conselhos sobre assuntos como moral, ética e a criação de uma sociedade justa. Dentre todos os conselhos que se poderia destacar, resolvi escolher um que é frequentemente mal interpretado e passa batido em uma leitura literal: “Não lavrarás com boi e jumento juntamente.”

Fica fácil ver por que este mandamento passa batido, ele simplesmente não parece útil nas nossas vidas modernas. No entanto, Ibn Ezra, um famoso cabalista da Idade Média, explica que este conselho de Moisés está preocupado com “o pequeno jumento que não tem a mesma força que o boi e não consegue puxar o arado de maneira igual a ele. Colocar os dois juntos para trabalhar faria com que o jumento trabalhasse mais do que a sua capacidade normal, e, portanto, isso é proibido”.

O que fica claro daqui é que a preocupação é com o fato de o jumento e o boi serem dois animais distintos. Ambos são fortes, mas cada um tem um tipo de força e de habilidade laboral. Cada um separadamente, à sua maneira, consegue puxar o arado e executar o seu serviço. Mas juntos, eles causam desequilíbrios insalubres.

Apesar de não vivermos mais em uma sociedade agrícola, a questão do coletivo e do individual ainda se faz presente em nossas vidas modernas. A nossa sociedade é diversa, composta por indivíduos de diferentes talentos. Isso deve nos alertar para o perigo das generalizações. Moisés está ensinando que considerar o jumento e o boi em pé de igualdade seria uma causa de sofrimento.

Devemos criar uma sociedade em que a expressão individual seja cultivada, sempre que isso for para um resultado final produtivo: o campo arado. Como ser humano único, todo mundo tem direito a manifestar sua individualidade e personalidade.

A linha divisória que separa os interesses do indivíduo frente aos do coletivo é tênue e, muitas vezes, difícil de se demarcar. Até que ponto, por exemplo, a pessoa tem direito de “liberdade de expressão” quando isso fere interesses coletivos? Até que ponto um grupo racista tem direito de se manifestar se suas palavras são de ódio e preconceito contra a coletividade? A dica é dada por Ibn Ezra: devemos focar no campo lavrado. Sempre que as expressões individuais sirvam para deixar o campo arado e produzindo benesses, devem ser muito bem vindas e valorizadas. No entanto, a partir do momento que a expressão individual tem como foco apenas destruir o campo e não acrescenta nada de útil, deve-se valorar qual é o real peso que ela tem frente à comunidade.