domingo, 11 de setembro de 2011

Ki Tetsê - Energia Semanal de 04/09 a 10/09

O texto desta semana (Deuteronômio 21:10 – 25:19) é uma continuação do discurso final de Moisés. Aqui ele passa cerca de 70 conselhos sobre assuntos como moral, ética e a criação de uma sociedade justa. Dentre todos os conselhos que se poderia destacar, resolvi escolher um que é frequentemente mal interpretado e passa batido em uma leitura literal: “Não lavrarás com boi e jumento juntamente.”

Fica fácil ver por que este mandamento passa batido, ele simplesmente não parece útil nas nossas vidas modernas. No entanto, Ibn Ezra, um famoso cabalista da Idade Média, explica que este conselho de Moisés está preocupado com “o pequeno jumento que não tem a mesma força que o boi e não consegue puxar o arado de maneira igual a ele. Colocar os dois juntos para trabalhar faria com que o jumento trabalhasse mais do que a sua capacidade normal, e, portanto, isso é proibido”.

O que fica claro daqui é que a preocupação é com o fato de o jumento e o boi serem dois animais distintos. Ambos são fortes, mas cada um tem um tipo de força e de habilidade laboral. Cada um separadamente, à sua maneira, consegue puxar o arado e executar o seu serviço. Mas juntos, eles causam desequilíbrios insalubres.

Apesar de não vivermos mais em uma sociedade agrícola, a questão do coletivo e do individual ainda se faz presente em nossas vidas modernas. A nossa sociedade é diversa, composta por indivíduos de diferentes talentos. Isso deve nos alertar para o perigo das generalizações. Moisés está ensinando que considerar o jumento e o boi em pé de igualdade seria uma causa de sofrimento.

Devemos criar uma sociedade em que a expressão individual seja cultivada, sempre que isso for para um resultado final produtivo: o campo arado. Como ser humano único, todo mundo tem direito a manifestar sua individualidade e personalidade.

A linha divisória que separa os interesses do indivíduo frente aos do coletivo é tênue e, muitas vezes, difícil de se demarcar. Até que ponto, por exemplo, a pessoa tem direito de “liberdade de expressão” quando isso fere interesses coletivos? Até que ponto um grupo racista tem direito de se manifestar se suas palavras são de ódio e preconceito contra a coletividade? A dica é dada por Ibn Ezra: devemos focar no campo lavrado. Sempre que as expressões individuais sirvam para deixar o campo arado e produzindo benesses, devem ser muito bem vindas e valorizadas. No entanto, a partir do momento que a expressão individual tem como foco apenas destruir o campo e não acrescenta nada de útil, deve-se valorar qual é o real peso que ela tem frente à comunidade.

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