domingo, 27 de maio de 2012

Nassô - Energia Semanal de 27/05 a 02/06


Uma das coisas mais "estranhas" da Porção Semanal de Nassô é o relato repetitivo de todos os príncipes das tribos de Israel, e as oferendas que eles trouxeram em conjunto para inaugurar o Tabernáculo, onde se faziam sacrifícios para D”us.

Apesar de cada príncipe ter trazido exatamente a mesma coisa que seu antecessor, a Torá detalha cada uma das oferendas com exatidão: ela não economiza nos detalhes e nem abrevia o seu relato. Assim, por doze vezes a Torá afirma meticulosamente o nome do príncipe, a tribo a que ele pertencia, e o presente que ele trouxe, mesmo que suas oferendas fossem idênticas.

Por que a Torá optou por relatar doze vezes a mesma coisa? A resposta é: para dar a cada príncipe e sua tribo o seu lugar sob os holofotes.

O Rabi Pessach Krohn, no primeiro livro de sua série de contos judaicos, relata a história do Rav Yitschac Elchonon Spektor, o Rav Kovno.

Segundo a lei russa, todos os jovens eram obrigados a se alistar no exército. Além da óbvia ameaça constante de morte, manter qualquer observância religiosa no exército era praticamente impossível. A única saída para isso era a isenção do serviço militar.

Yaakov, um aluno que era muito amado por seu rabi, o Rav Kovno, solicitou isenção militar. A capital, Moscou, não respondeu imediatamente ao pedido, e os amigos de Yaakov, juntamente com o seu amado Rebe, diariamente ficavam esperando por qualquer notícia sobre a isenção de Yaakov, para saber se ela tinha sido aceita.

Uma certa tarde, o Rav Kovno estava envolvido em uma disputa rabínica. Ele estava com mais dois rabinos tentando resolver um problema jurídico complexo que envolvia dois ricos comerciantes da comunidade. Ambos os lados estavam dispostos a um acordo e por horas os três rabinos tentaram encontrar uma solução amigável para o caso.

De repente, a porta se abriu e um rapaz enfiou a cabeça para dentro do quarto. Assim que ele viu o Rav Kovno, disse com entusiasmo: "Rabi! Acabamos de receber a notícia! Yaakov foi liberado do exército!" O Rav Kovno deu um suspiro de alívio e disse com um sorriso radiante: "Que Deus o abençoe por trazer essa maravilhosa notícia. Que você possa merecer longos anos e boa saúde. Obrigado do fundo do coração!"

O rapaz saiu sorrindo, contente por ter feito o seu rebe tão feliz. Imediatamente os rabinos retomaram as deliberações em uma tentativa de resolver o assunto legal que discutiam.

Poucos minutos depois, outro estudante abriu a porta. Sem saber que seu rebe já sabia da notícia, ele se desculpou por interromper a reunião, dizendo que tinha algo muito importante para compartilhar. Em seguida, ele anunciou com alegria "Rebe, ficamos sabendo que o Yaakov foi liberado!"

O Rav Kovno respondeu com o mesmo entusiasmo da primeira vez. "Que maravilha! Que Deus o abençoe por trazer essa maravilhosa notícia. Que você possa merecer longos anos e boa saúde. Obrigado do fundo do coração!"

O rapaz fechou a porta e saiu, radiante de alegria por ter feito o seu rebe tão feliz.

Cinco minutos depois, ainda um terceiro garoto entrou na sala. "Rebe, você ficou sabendo? O Yaakov foi liberado!" Mais uma vez o Rav Kovno abriu um largo sorriso e abençoou o menino pela maravilhosa notícia. Ele o agradeceu e o abençoou exatamente da mesma maneira com que fizera com os rapazes anteriores.

Por seis vezes meninos diferentes vieram com a mesma notícia, cada um imaginando a felicidade que seu rebe sentiria com a notícia, e cada um sem saber que os outros tinham vindo antes lhe contar a notícia. O Rav Kovno sorria para cada um dos meninos, expressava sua gratidão e o fazia se sentir tão importante como se ele fosse o primeiro a lhe dar as boas novas.

A atenção a um ser humano é uma das mais importantes lições que podemos aprender desta energia semanal. É justamente por conta disso que o Rabi Itschac agiu como agiu e a Torá repetiu o nome de cada líder da tribo com o mesmo entusiasmo. Tudo para nos ensinar a importância do respeito aos outros.

domingo, 20 de maio de 2012

Bamidbar - Energia Semanal de 20/05 a 26/05


Esta semana começa-se a ler o quarto livro da Torá, o livro de Números, e que é, por sinal, um dos mais difíceis de entender, seja literalmente ou cabalisticamente. Isso ocorre pois o livro de Números trata basicamente disso mesmo, de números, ou seja, de censos feitos entre o povo judeu para saber quantas pessoas havia entre as tribos de Israel.

Que grande ensinamento pode estar contido no número de pessoas que havia em cada tribo de um povo que viveu há mais de 3.000 anos?

A contagem que se apresenta esta semana foi feita logo após o Êxodo do Egito e, portanto, após 210 anos de escravidão. Do ponto de vista literal, era importante saber quantas pessoas iriam empreender a travessia pelo deserto até chegar à terra de Israel.

No entanto, a tradição afirma que das doze tribos existentes, uma delas – a tribo de Levi – não foi escravizada, pois ela era mais espiritualizada, e se dedicava ao serviço religioso, e a nada de cunho material ou terreno. Assim sendo, ao nos depararmos com o censo desta porção semanal, deveríamos esperar que a tribo de Levi fosse mais numerosa do que as outras, pois ela não passou por execuções sumárias, trabalhos forçados, etc.

Porém, surpreendentemente, enquanto o texto afirma que todas as tribos de Israel tinham por volta de 50 a 60 mil homens com a idade entre 20 e 60 anos, a tribo de Levi tinha pouco mais de 20 mil homens, e isso incluindo os jovens abaixo de 20 anos e os anciãos acima dos 60 anos. Por que esta diferença ilógica?

O Nachmânides diz que a resposta para isso está no início do segundo livro da Torá. Quando o povo judeu começou a ser perseguido e escravizado, as mulheres engravidavam e davam à luz com muito mais facilidade. Por isso, quanto mais os egípcios oprimiam os judeus, mais judeus nasciam no Egito, como diz o versículo "E quanto mais eles eram afligidos, mais eles aumentavam e se espalhavam" (Êxodo 1:12). Sendo assim, a tribo de Levi, que não foi escravizada, não aumentou o seu tamanho, o que explica a grande diferença durante o censo.

Porém, se a tribo de Levi não foi escravizada justamente por estar mais dedicada ao serviço espiritual, afastada do mundano, não deveríamos esperar que eles crescessem mais que os outros, mesmo que não fossem escravizados? Afinal de contas, eles eram muito espiritualizados! Tão espiritualizados a ponto de se afastarem do mundo material e da escravidão.

E esse é justamente o problema. Justamente pelo fato de serem muito espiritualizados e terem vivido em liberdade e isentos do jugo egípcio, a tribo de Levi ficou alheia ao mundo, e indiferente a ele. Em maior grau, a tribo de Levi não conseguia sentir o sofrimento dos seus irmãos. Eles não sofreram junto com os outros do povo, não compartilharam sua dor. E como não havia esta pertença ao mundo e esta solidariedade, eles também não receberam o mérito de crescerem e se multiplicarem, como o resto do povo.